FRANCISCO REBOUÇAS - ESPIRITISTA TEM O PRAZER DE APRESENTAR AOS NOSSOS DISTINTOS USUÁRIOS, A ENTREVISTA QUE NOS FOI CONCEDIDA POR ALCIONE PEIXOTO, FILHA DO SAUDOSO E QUERIDO MÉDIUM DE MATERIALIZAÇÕES FRANCISCO PEIXOTO LINS, “PEIXOTINHO”.
1- QUEM FOI PEIXOTINHO?
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Para nós, seus filhos, e para os amigos que nos freqüentavam o lar simples, Peixotinho era o amigo, era alegria, bom humor, simplicidade, humildade, e doçura constantes. Sua capacidade de compreender as pessoas, sua compaixão, sua hospitalidade, sua imensa capacidade de perdoar, foram sempre destacadas por todos que o conheceram. Ele e Baby, nossa mãe, foram missionários silenciosos do espiritismo no Brasil. Juntos, eram como farol a iluminar muitas vidas. Muitos Templos Espíritas se multiplicaram a partir deles por nossa região e pelo Brasil.
2-QUANTOS IRMÂOS VOCÊ TEM?
Peixotinho teve nove filhos. Uma das filhas – Araci - desencarnou com pouco mais de um ano de idade. Criou com sacrifício os oito filhos. Um único homem (o mais velho) e sete mulheres. Portanto, tenho seis irmãs. Uma destas – Ceila – desencarnou há quinze dias, no dia 20 de agosto de 2006.
3-COMO ERA A VIDA NORMAL DE PEIXOTINHO?
Ele militar do Exército e, por isso, teve a vida muito agitada por transferências constantes. Para onde era transferido buscava os espíritas do lugar e instalava logo o receituário homeopático. Era psicógrafo, médium mecânico, vidente, audiente etc. Embora seu compromisso fosse com a ectoplasmia, a ele abria-se um imenso leque de possibilidades mediúnicas. A presença de minha mãe em sua vida acompanhando-o aonde quer que ele fosse, foi o grande amparo ao seu trabalho. Peixotinho era um homem antenado com seu tempo. Acompanhava a política, o futebol como qualquer outro brasileiro. Gostava muito de cinema, de música, tanto as clássicas como os ritmos que lhe lembrava o seu nordeste distante. Gostava muito de conversar, de receber visitas, e, sobretudo de viajar. Nossa casa era sempre cheia. Muito alegre, os nossos colegas jovens adoravam estar conosco e conversar com papai. Também a chegada constante de doentes de todo o Brasil que vinham em busca de tratamento de saúde movimentava nossa casa. Doentes do corpo e da alma e até mesmo doentes mentais. Ele abrigava a todos junto a nós, seus filhos, sua família, com a maior naturalidade e com fé na recuperação de todos. Muitos batiam à nossa porta vindos de cidades distantes sem nos conhecer. E vinham com grandes malas para ficar até o fim do tratamento, na certeza de que teriam abrigo certo nessa casa simples onde hoje eu moro.
4- COMO SE TORNOU ESPÍRITA?
Pela própria mediunidade. Na adolescência, em fase de explosão mediúnica aguda, passou por um processo de catalepsia do qual só despertou depois de já estar amortalhado, o que chamou a atenção de muita gente. A notícia correu e o grande tribuno espírita, Major Viana de Carvalho que, na época, ocupava posto de comando em unidade do Exército Brasileiro no Ceará, tomou conhecimento do sofrimento daquele jovem e foi em seu socorro. Saiu desse episódio paraplégico. Foi amparado pela casa espírita que mais tarde veio a ser a Federação Espírita do Estado do Ceará, onde Viana de Carvalho atuava. Com passes e água fluídica ficou curado. Foi Viana de Carvalho o seu orientador na seara espírita. E Peixotinho foi fiel às orientações desse mestre, mantendo por toda sua vida fidelidade a Jesus e a Kardec.
5-QUANDO É QUE ELE DESCOBRIU QUE TINHA CAPACIDADE DE PROMOVER MATERIALIZAÇÕES?
Foi em Macaé, em 1936, no Grupo Espírita Pedro e soube por revelação dos espíritos que deram todas as instruções para a realização das reuniões de efeitos físicos. Muitos obstáculos foram vencidos entre eles a sua saúde deficiente, já que era portador de uma asma que não lhe dava descanso, e a falta de preparo espiritual dos assistentes, tendo em vista que ele foi o primeiro médium com tarefa tão definida, numa área mediúnica dedicada exclusivamente ao tratamento de doentes.
6-DAS VÁRIAS MATERIALIZAÇÕES QUE REALIZOU QUAL A QUE MAIS O IMPRESSIONOU?
Ele não assistia às materializações. Saía do corpo físico levado por uma equipe da espiritualidade. Voltava contando-nos maravilhas da vida espiritual. Contudo, vibrava com os relatos dos companheiros a respeito dos espíritos de luz que se materializavam. Creio que o relato que mais o impressionou foi a descrição do Ministro Clarêncio, de Nosso Lar, que visitou o Grupo Aracy, onde ele atuava como médium. Também a descrição da doçura de Dr. Bezerra de Menezes e de Nina Arueira que na Terra fora noiva do Prof. Clóvis Tavares. Uma senhora costureira que a viu, disse que teve vontade de copiar seu vestido tecido em luz como se fosse de um luar brilhante. Outra bem comentada foi a de sua filha Aracy, espírito de muita luz, desencarnada em 1937, que se materializou vestida como uma linda moça em trajes típicos da Espanha. Sheilla, José Grosso e outros estavam sempre conosco. Essas reuniões eram dirigidas pelo espírito Garcês.
7- E A FAMÍLIA, COMO RECEBIA ESSAS REALIZAÇÕES DO QUERIDO MÉDIUM?
Toda a família se beneficiava espiritualmente de seus dons mediúnicos. Fomos muito protegidos pelos benfeitores para que ele produzisse melhor. Ele fazia conosco um culto diário, onde estudávamos o Novo Testamento e ele ficava feliz com nosso progresso no conhecimento dos relatos do Evangelho de Jesus. Lastimo que os lares espíritas não cultivem o hábito de ler o Novo Testamento. Durante nossas orações, os benfeitores compareciam para abençoar nossa infância feliz, premiando-nos com a materialização de flores e perfumes que jorravam sobre nossas pequeninas cabeças. Materialmente éramos muito pobres, mas não nos dávamos conta disso. Nosso lar era tão bom, feliz e alegre!...
8-ALGUÉM MAIS DA FAMÍLIA TEM ESSE TIPO DE MEDIUNIDADE?
Sim. Mas não tão ostensiva como a de Peixotinho. Eu e Joana chegamos a atuar como médium auxiliar. Joana dedicou-se mais à tarefa de efeitos físicos. Agora um sobrinho e um dos meus filhos apresentam fortes indícios dessa mediunidade. Nossas tarefas na doutrina, contudo, não se prendem a essa forma mediúnica. Trabalhamos, eu minhas irmãs Nina e Joana com outras dons mediúnicos. Mas os espíritos, com certeza, aproveitam-nos sempre a possibilidade de doação ectoplásmica em benefício de doentes. Mesmo que não tenhamos disso consciência.
9- AQUELES QUE NA ÉPOCA VIVIAM EM CONTATO COM A FAMÍLIA AINDA SE MANTÊM AMIGOS DE VOCÊS?
A maioria dos amigos que nos freqüentava já desencarnou. Os que permanecem na Terra estão sempre conosco. Também os filhos deles continuam a fazer parte de nosso círculo de relações. Todos relembram com uma saudade bonita e suave os momentos vividos em nossa casa. Uma das senhoras aqui tratadas de um câncer na década de 50 e que ainda vive no Rio, chama nossa casa de “Cantinho do Céu”.
10- COMO ERA A VIDA DE VOCÊS TENDO UM PAI TÃO CONHECIDO E COMENTADO NO MEIO ESPÍRITA?
A vida comum de toda juventude da época, acrescida das tarefas junto aos sofredores, como visita aos doentes, presídios e a lares pobres onde levávamos alimentos e roupas. Isso desde nossa primeira infância era um fato tão normal como o era para nós a mediunidade dele. Quando menina, eu achava que em todas as casas aconteciam tais fenômenos e se convivia naturalmente com os Espíritos. Descobri que nossa casa era diferente através de uma grande dor. Contei fatos acontecidos em casa na escola e fui muito castigada. Narro tudo isso no livro “MATERIALIZAÇÃO DO AMOR” do prof. Humberto Vasconcelos, editado pela DOXA, que considero a melhor obra sobre Peixotinho. Na verdade nunca o vimos como alguém especial, diferente. Sua humildade extrema não nos permitiu dimensionar sua importância para o desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. Todos que o conheceram de perto têm a mesma opinião. Só depois de sua morte pudemos avaliar a grandeza de sua obra e de seu espírito. O próprio Chico Xavier, em conversa com o prof. Clóvis Tavares, certa vez, tira do bolso do paletó um retrato de Peixotinho e afirma que foi o maior médium de efeitos físicos que ele conheceu e referiu-se a sua humildade para justificar a pouca divulgação dada à época ao seu trabalho, dizendo que Peixotinho era muito evangelizado, daí os fenômenos serem tão luminosos.
11- COMO É A VIDA DA FAMÍLIA HOJE SEM A PRESENÇA DO MÉDIUM?
Sua presença continua uma constante em nossas vidas. Eu, particularmente, estou sempre a receber-lhe as orientações amigas. Falamos tanto nele que seus netos e bisnetos que não o conheceram têm a maior familiaridade com ele e citam-no sempre. Alguns dos seus filhos dedicaram-se mais intensamente às tarefas espíritas. Uns na tribuna, outros nas tarefas mediúnicas ou assistencial e outros guardam só na memória suas lições e se esforçam por praticá-las na vida, sem, porém, manterem maior vinculação com a Casa Espírita. Alguns de seus netos já militam com brilhantismo na tribuna espírita no Recife, são doutrinadores, médiuns, evangelizadores etc.
12- QUAIS AS LEMBRANÇAS E OBJETOS QUE A FAMÍLIA GUARDA DAS MATERIALLIZAÇÕES QUE PEIXOTINHO REALIZAVA?
Como Chico Xavier, ele distribuía tudo. Às vezes queríamos guardar uma pedra bonita que os espíritos nos davam, mas logo chegava alguém que a vira cair e pedia-nos. Delicadamente, ele nos sugeria a dádiva. Depois dizia-nos: “vocês têm isso tudo todos os dias...”. Obedecíamos. Por isso ficamos sem nada material, a não ser alguns poemas escritos pelos próprios espíritos materializados. Mas ficamos com a melhor parte, como Maria de Betânia, as lembranças e os exemplos que nos cabe multiplicar,
13- O QUE NÃO TE PERGUNTEI E QUE VOCÊ GOSTARIA DE RESPONDER?
A sua entrevista foi bem abrangente e possibilitou-me saudosos relatos. Gostaria, porém, de reafirmar que não existem bons médiuns sem que exista antes um bom homem, um homem cristão em todas as horas de seu dia. Esse é o grande medianeiro a serviço de Jesus na Terra.
14- MANDE SEU RECADO FINAL AOS AMIGOS DO PORTAL DO ESPIRITISMO.
Que os companheiros do PORTAL DO ESPIRITISMO se unam às minhas preces de gratidão a Jesus por proporcionar aos homens tantos avanços tecnológicos e por estarem os senhores utilizando essa tecnologia a serviço do desabrochar dos mais elevados sentimentos no espírito dos homens; unindo, assim, conhecimento a sentimento, equilibrando as asas suaves que nos permitirão o vôo definitivo no rumo do Amor de Deus. Mesmo sabendo de minha pobreza espiritual, disponibilizo-me sempre para qualquer atividade em que possa ser útil ao trabalho dos senhores. Que Jesus os ilumine!
Alcione Peixoto Cordeiro. Em Campos dos Goytacazes, 5 de setembro de 2006.
O Francisco Rebouças Espiritista agradece de coração a atenção que nos foi dispensada por Alcione Peixoto, na concessão desta entrevista que nos possibilita conhecer mais de perto a vida desse extraordinário médium, rogando a Deus que onde estiver o nosso querido Peixotinho, Jesus com ele também esteja, e a você querida Alcione e a toda família, nossos votos de que todos tenham sempre a assistência dos Bons Espíritos.
Francisco Rebouças