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Sílvio Carvalho de Oliveira

17-04-2011 22:22

 

Entrevistas

 
O FRANCISCO REBOUÇAS - ESPIRITISTA TEM O PRAZER DE APRESENTAR AOS NOSSOS DISTINTOS AMIGOS, A ENTREVISTA REALIZADA PELA NOSSA AMIGA JAQUELINE LEAL, E CONCEDIDA PELO SENHOR SILVIO CARVALHO DE OLIVEIRA, PRESIDENTE DO CENTRO ESPÍRITA TRABALHADORES DE JESUS E RESPONSÁVEL PELA ADMINISTRAÇÃO DA COLÔNIA DE HANSENIANOS TAVARES DE MACEDO, EM VENDAS DAS PEDRAS, ITABORÁI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

A Colônia Tavares de Macedo é uma das instituições mais sérias e conhecidas do Movimento Espírita de todo o Estado do Rio de Janeiro.

Entrevista: Jaqueline Leal

1) Sr. Silvio, quando foi criada a Colônia Tavares de Macedo?

A Colônia Tavares de Macedo foi criada na década de 1920, quando a enfermidade era considerada contagiosa. Como era uma doença de fama muito feia, porque ela deforma o rosto, as mãos, os pés, criando ferimentos diversos e desfigurando o corpo humano, a então lepra era considerada um flagelo, que precisava ser isolado.
A ONU, considerando a situação aflitiva dos hansenianos à época, resolveu enviar ajuda financeira às nações com maiores problemas com a lepra, dentre eles o Brasil. Então, o governo de Getúlio Vargas recebeu uma verba internacional que foram aplicadas na construção de mais de 30 colônias de leprosos (naquela época), onde existiria um hospital para os doentes e casa para os familiares.
O nosso Hospital Estadual Tavares de Macedo foi fundado no dia 27 de abril 1936 e inaugurado oficialmente pelo governo de Getúlio Vargas.

2) Qual foi a estrutura basilar do Hospital quando da sua criação?

A estrutura criada teve característica de hospital comunitário – hospital para os doentes e casas para as famílias. Por que? Porque, antes, devido ao estigma da doença, os leprosos que viviam fora do hospital vivam como ciganos, como hoje fazem os sem terra, mendigando migalhas da sociedade para sobreviverem. Como não havia medicamentos para combater o bacilo, o estado clínico da enfermidade era ruim e essa situação era irritante para o governo, já que a sociedade gritava pela erradicação do problema. Assim, o governo resolveu criar uma colônia reclusa, tipo prisão, onde os doentes não tinham direito de ir e vir.

3) Quando essa situação começou a mudar?

Em 1950, no governo de Jucelino Kubistjeck com o aparecimento da sulfa. Em 1958, o doente passou a ter direito a licença para sair da colônia. Naquela época, os filhos dos doentes tinham que ser tirados do colo da mãe e colocados no Educandário Vista Alegre, em São Gonçalo, que havia sido erigido apenas para filhos de hansenianos. As mães ficavam 3 anos sem ver os filhos depois de nascidos e duas vezes por ano o Educandário trazia as crianças maiores de 5 para ver os pais, sem contudo permitir tocá-los.
Hoje o hospital é considerado um hospital dermatológico e não existe mais o perigo de contágio. O doente é livre para ir e vir, sem necessidade de nenhum tipo de autorização para tal e não existe mais nenhum tipo de restrição à presença de doentes em locais públicos.

4) Existe um Centro Espírita dentro da Colônia. Quando ele foi criado?

O Centro Espírita Trabalhadores de Jesus foi fundado em 10 de março de 1953, numa época em que ainda havia muita restrição ao hanseniano. Os espíritas naquela época, como se diz popularmente, forçavam a barra para entrar na colônia porque os portões do local impediam o acesso de todos aqueles que não fossem doentes. Os espíritas, então, começaram a trazer bens materiais (roupas, biscoitos, etc.) o que acabou favorecendo a permissibilidade da visitação. O doente já estava acostumado ao paternalismo do Estado, que, aliás, até hoje se perpetua, mas o Governo está saindo do cenário da colônia.
Os espíritas foram como os bandeirantes da libertação do hanseniano. A igreja católica também tem seu papel relevante na ajuda aos hansenianos, mas as caravanas espíritas são mais numerosas. A primeira delas era a caixa de excursão Maria Cardoso, na década de 1950.
Até hoje existem caravanas de visitação quase todos os domingos com a presença de várias Casas Espíritas das cercanias, sendo que apenas algumas evangelizam as crianças e visitam as enfermarias.

5) Quanto tempo o senhor tem aqui na Colônia?

Estou na colônia desde 1959, portanto, há 45 anos. Todos os fundadores do Centro Espírita já desencarnaram e estão enterrados na Colônia, porque nós temos um cemitério.
Não posso me queixar de nada porque aqui não me falta nada. Sou funcionário do Hospital e, apesar de minhas limitações, trabalho e conto com a solidariedade dos caravaneiros, que ajudam muito o nosso trabalho na Colônia.

6) Como está, atualmente, a situação dos moradores da Colônia?

A maior parte da população que vive na Colônia Tavares de Macedo é sadia.
Ainda existe a leprofobia de antigamente enraizada na sociedade – medo sem razão, pavor sem justificação na época moderna. Um hanseniano quase foi prefeito do município de Itaboraí, no colégio da Colônia temos alunos sadios que moram fora e vêm estudar aqui dentro. Temos também uma biblioteca precária, mas que funciona relativamente bem e temos mais de 50 linhas telefônicas instaladas nas casas.
Por que medo de hanseníase hoje em dia? Não se justifica isso! O bacilo reage diante da claridade e do calor de mais de 30º, só sobrevive dentro do corpo e se desenvolve na pele, manifestando-se principalmente por meio de dormência. A partir do início do tratamento, depois de 2 anos o doente não precisa mais de medicação. 85% da população brasileira tem imunidade contra a hanseníase e quem a desenvolve, não desenvolve sempre os mesmos sintomas. Só 2% dos hansenianos tem a perna cortada, mais de 40% dos doentes são limpos, não têm sintomas da doença e não saem da colônia simplesmente porque não querem, porque estão acostumados a viver aqui dentro.
A doença assumiu essa feiúra, esse estigma, por causa da Bíblia. Cristo curou muitos leprosos; ficou no inconsciente coletivo que só o Cristo cura a lepra, que a lepra é fruto do pecado, assumindo essa conotação estigmática que dificulta muito a vida do doente fora do hospital até hoje. Porque não é qualquer doente que pode transitar sem preconceito fora da Colônia.

7) Qual o número médio de moradores e internos?

No início eram mais de 150 os internados; hoje não chegam a 50. As enfermarias eram apenas depósitos de doentes porque a hanseníase ataca os rins e havia muito óbito por barriga d’água devido à falta de hemodiálise. Atualmente o índice de mortalidade é baixo, porque a doença é, na verdade, purgatorial, não é mais grave de matar, é uma oportunidade de reflexão. A hanseníase não é dolosa, ela é educativa.
Hoje em dia os doentes preferem viver nas suas casas, mesmo sem poder andar, porque têm a sua privacidade. Eu, por exemplo, vivo na minha casa, mesmo com minha limitação para caminhar.
Muita gente não doente está morando na Colônia. Hoje em dia somos mais ou menos 550 pessoas, sendo importante dizer que os parentes dos doentes podem morar aqui. O nosso índice de criminalidade é baixo, as crianças vivem bem, até porque hanseníase não é doença de criança. Por exemplo, na criação da Colônia, foi erigido um pavilhão para internação de crianças e que nunca funcionou simplesmente porque não se tinha criança doente.
Hoje em dia, quase não aparece mais ninguém para se internar porque quem entra não quer sair. Só chegam os doentes com problemas sociais graves porque hoje em dia não se justifica mais a internação, já que os postos de saúde tratam da doença logo no início. A hanseníase não é mais problema para a sociedade, ela só carrega uma tradição negativa do passado.
Hoje em dia contamos com a ajuda do MORHAN – Movimento de Reiteração dos Hansenianos, que vem ajudando a desmistificar a hanseníase para a população em geral.

8) O Senhor queria deixar alguma mensagem registrada para a comunidade espírita?

Queria agradecer aos caravaneiros espíritas pela ajuda que nos prestam, principalmente aos grupos que visitam as enfermarias e evangelizam nossas crianças. Precisamos agradecer, porque nós não estamos abandonados. Além do Deus de amor que faz tudo para o nosso bem, nós temos, ainda, assistência da sociedade através do Governo do Estado, nos dois hospitais de hansenianos no Rio de Janeiro – o Hospital Curupaiti, em Jacarepaguá, onde existe o Centro Espírita Filhos de Deus, fundado há mais de 60 anos e o nosso Hospital Tavares de Macedo, aqui em Venda das Pedras, Itaboraí. Quero agradecer pelos nossos companheiros sadios que entram e saem da Colônia e que mantêm a integração e a vida social nossa com o mundo lá fora. E que Deus os abençoe.

Agradecemos de coração ao Sr. Silvio Carvalho de Oliveira, presidente do centro Espírita Trabalhadores de Jesus e Administrador da Colônia de Hansenianos Tavares de Macedo, pela gentileza em nos atender, rogando a Deus que continue a lhe dar forças e inspiração para levar à frente essa grandiosa missão.

Agradecemos também a Jaqueline Leal e Raul Muniz, nossos especiais amigos, pelo excelente trabalho realizado.


Francisco Rebouças
 

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